06/04/2008

Duas poesias [ou poemas, nunca soube a diferença]

Uau, dois posts na mesma semana! Que máximo! Bom, talvez não. Isso estava começando a ficar meio chato... então a partir da semana que vem vou diversificar mais ainda os tipos de post. [lol]

Eis aqui em seguida, duas poesias/poemas... que eu fiz em 10 minutos. Como sempre eu basicamente vomito as idéias de última hora, rearranjo mentalmente e passo para o papel. Ou, no caso, computador. De qualquer maneira, a primeira poesia alguns reconhecerão como uma antiga idéia minha... que foi reformulada agora, pois antes era prosa:


—sublime[nar]—

Versos submersos
Agitam-se, perplexos
Infinitas léguas sob o mar

Trago-os à tona
Orquestro-os
Meço-os
Arranjo-os
Retoco-os

Nunca satisfeito,
Obrigo-me a outros versos buscar

Comprida missão; esqueço a canção e
Urro aos céus o meu pesar


10 pontos para quem descobrir o que há de errado nessa coisa. Hehe.

Ahem, a outra poesia é um soneto chamado soneto [sim, muitos autores fazem isso... eu pensei "por quê não?"]. Primeiramente, gostaria de informar às pessoas que eu sei que vão se identificar com a pessoa a quem o eu-lírico se refere, que não, não é sobre vocês essa poesia.

[É claro que esse aviso pode acabar virando contra mim e ser um tipo de psicologia reversa... Se for o caso, por favor façam de conta que eu não avisei sobre nada, ok? Obrigado.]


—Soneto—

Fala-me com o coração,
Aquece-me com o olhar,
Lê-me com as mãos,

Toca-me com a mente,
Anima-me com os lábios,
Transforma-me em gente.

Fodam-se os outros,
Nosso tempo é ouro.
Preciso te dizer,
Preciso te contar...

Em tudo o que já fiz,
Como um eterno aprendiz,
Procuro me entender
Por meio de te amar...


Isso é tu-tu-tu-tu-tudo pessoal! [quem reconhecer essa ganha 5 pontos]

Não se esqueçam de checar logo abaixo o texto do mestre vero da verdade verossimilhançal, Veríssimo. Até.

04/04/2008

Filler 3: O Retorno do Rei

[Luis Fernando Veríssimo]

— Da Timidez


Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico: só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.

Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes. Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido gritando "Não me olhem! Não me olhem!", só para chamar a atenção.

O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele. Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.

O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.

O tímido tenta se convencer de que só tem problemas com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido, duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue escapar e se vê diante de uma platéia, o tímido não pensa nos membros da platéia como indivíduos. Multiplica-os por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ouvidos. Quatro vias, portanto, para receber as suas gafes. Não adianta pedir para a platéia fechar os olhos, ou tapar um olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela metade. Nada adianta.

O tímido, em suma, é uma pessoa convencida de que é o centro do Universo, e que seu vexame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó.