Eu estava de mãos dadas com ela. Nós olhávamos para o horizonte e o sol nascente que, preguiçosamente, erguia-se no céu. Uma brisa cálida acariciava nossos cabelos enquanto um grupo de águias sobrevoava as redondezas.
— Alguém deveria assinar o nome nesta obra de arte. — ela me disse, recostando sua cabeça em meu ombro.
Eu não soube como responder àquelas palavras, com medo de dizer algo estúpido. Apenas concordei, balançando a cabeça. Segui as águias com o olhar durante algum tempo. O céu se enchia com uma mistura perfeita de amarelo, azul e vermelho. Não me lembrava mais como chegáramos naquele local; não me importava aonde iríamos depois.
— Quem me dera ser livre como aquelas águias... eu nunca mais sairia daqui. — disse eu depois de retornar à realidade. Esperava algum tipo de resposta: um abraço, uma carícia... Mas ela nada fez.
Olhei para seu rosto e seus olhos estavam fechados. Ela estava com um leve sorriso em seu rosto, tão doce que me pareceu esculpido por deuses. Sua respiração lenta e compassada, aliada à sua imagem angélica, me enebriava. Sentia cada pulso do meu coração, como se quisesse libertar-se de meu corpo.
Levantei meu braço e, com a leveza de uma pluma que encosta na água, eu a abracei. Recostei minha cabeça na dela e beijei suavemente seus cabelos. Sussurrei calmamente, apesar da transbordante emoção que me assediava, em seu ouvido:
— Eu te amo...
Pronunciei, com um prazer que até então não havia experimentado, seu nome, quase que letra por letra, e repeti, como que para fazer-me ter certeza também:
— Eu te amo...
Ela se moveu, lentamente, e deitou-se, com sua cabeça em uma perna minha. Abriu preguiçosamente os olhos, enfocando os meus, pousou sua mão em minha nuca, puxou-me para si e, olhando-me uma última vez antes de fechar novamente os olhos, beijou-me.
Algo quente percorria-me o corpo por completo. Não poderia ser sangue, era demasiadamente quente para isso. Parecia-me lava, derretendo-me por dentro e continuando a fazê-lo até meu exterior.
Sentia naquele momento a melhor sensação de minha vida. Procurei em minhas memórias momentos como aquele, sem sucesso. Quase me esqueci de aproveitá-lo.
Depois de uma eternidade, ou talvez alguns segundos, nossos lábios separaram-se. Olhamo-nos, então, e sorrimos juntos. Ela me disse:
— Eu também te amo... — Acariciou-me o rosto com um gesto de sua mão e continuou: — Não precisas me provar isso a todo instante... mas sabes que eu gosto.
Eu sorri, com a inocência que não me aparecera em anos.
— Tenho medo de perder-te... de tudo isto não passar de um sonho... — confessei, finalmente, como se fosse um tipo de pecado mortal.
— Não sejas tolo! Não podes tocar-me? Não podes sentir-me?
Ela então se sentou e me abraçou. Sussurrou algo que não consegui decifrar e soltou-me.
Ao afastar-se novamente, entretanto, eu não podia mais discernir o seu rosto. Via seu maxilar mover-se, mas não conseguia ouvir nenhuma palavra.
Percebi, então, que as cores do céu e de todo aquele cenário se transformavam em tons de cinza. As águias sumiam, uma a uma. Sentia não mais a grama sob meus pés, mas algo duro e desconfortável. A brisa cálida de outrora não estava mais lá, e tudo a minha volta apagava-se como se algum garoto travesso usasse uma borracha em desenhos de meu caderno.
Tentei estender meus braços para segurá-la, mas eles não mais me respondiam. Tentei gritar seu nome desesperadamente, mas não havia ar em meus pulmões. Tentei ficar em pé, mas alguma força desconhecida puxava-me para o chão; tentei resistir, mas nada podia impedí-la, e fez-me deitar no chão.
Fechei os olhos que nada mais viam, e tive medo do que estava por vir. Trevas tomaram conta do meu mundo e chorei, como uma criança que se perde dos pais.
Com medo ainda, tardei milênios a abrir os olhos. Algumas imagens turvas estavam em meu campo de visão. Moveram-se lentemente e, finalmente, formaram uma imagem conhecida minha. Estava vendo o teto do meu quarto.
Entristeci-me, suspirei em tom choroso, virei-me para o lado, agarrei-me ao travesseiro e tentei voltar a dormir; quiçá voltaria àquele sonho tão bom de apenas minutos atrás.
11/05/2008
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Um comentário:
Muito bom Victor... xD
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